Colo cansado
…e assim, o colo aprende a dançar com a noite,
mesmo quando o corpo só queria deitar.
Colo cansado. Há noites em que o berço não basta.
O bebê chora, e a alma da mãe também.
O colo que embala
é o mesmo que geme por dentro,
tentando lembrar do seu próprio sossego,
do tempo em que podia deitar sem culpa,
respirar sem interrupção.
Mas ali está ela, de pé,
mesmo cansada, mesmo ferida,
mesmo sem ter dormido direito há dias.
Colo não é só braço.
É peito aberto, é presença.
É corpo que cede para que outro corpo descanse.
E ainda assim…
quem embala o colo da mãe?

…e assim, quem embala o colo da mãe?” Talvez o tempo. Talvez o amor em forma de rede. Talvez outra mãe, outro colo, outro gesto. Porque até o colo, às vezes, precisa ser acolhido.
No compasso do colo… nasce o sono
Há algo profundamente sagrado no ato de embalar um bebê:
um ritmo entrecortado por suspiros,
uma dança silenciosa entre o choro e o consolo.
Mas e quando o corpo da mãe está exausto?
Quando o sono vira um campo de batalha invisível?
É sobre isso que vamos conversar hoje.
Ajudar seu bebê a dormir – no compasso do colo e da noite
“Há um tempo em que é preciso acolher, embalar, cantar.
Um tempo em que o corpo cansado se torna colo.
E mesmo quando o sono se esconde…
é no compasso da noite que a alma do bebê se entrega.”
É nesse compasso que, muitas vezes, as mães se encontram exaustas, tentando compreender o que acontece com o sono do seu bebê.
Afinal, por que é tão difícil?
Será que existe algo de errado?
Será que o bebê está com dor?
Será que estou fazendo algo inadequado?
Vamos, com calma, falar sobre isso?
O sono do bebê é diferente do sono do adulto.
Enquanto nós temos ciclos de sono mais longos e mais estáveis, os bebês possuem ciclos mais curtos, e o tempo que passam em sono leve é bem maior. Isso faz com que despertem com mais frequência, especialmente nos primeiros meses de vida.
E mais: o sono não é apenas uma necessidade fisiológica. É também um processo emocional e relacional. Um bebê que não dorme pode estar precisando de muito mais do que apenas técnicas — pode estar precisando de conexão.
É preciso lembrar: o sono é aprendido.
E como todo aprendizado, ele acontece em etapas. O bebê precisa de previsibilidade, segurança, aconchego e rituais que comuniquem: “você pode descansar, eu estou aqui”.
Por isso, a ideia de criar um ambiente de sono seguro, calmo e afetuoso é fundamental.
A difícil travessia do sono
A maioria dos bebês não nasce com a capacidade de dormir a noite toda. E, muitas vezes, a expectativa social é de que, se os pais “fizerem tudo certo”, o bebê logo dormirá longas horas. Mas a verdade é mais delicada: o sono é um processo imaturo e em construção, que exige ajustes sensoriais, emocionais e fisiológicos.
https://www.youtube.com/@DraJannuzzi
Existem três tipos principais de sono:
- Sono agitado (REM):
- O bebê se movimenta mais, pode fazer barulhinhos, respirar rápido. O cérebro está em intensa atividade — essencial para o desenvolvimento.
- Sono tranquilo (não-REM):
- Corpo mais relaxado, respiração profunda. Esse é o sono mais restaurador.
- Sono de transição:
- Quando o bebê alterna entre um e outro — acordando com facilidade.
Nos primeiros meses, os ciclos são curtos (cerca de 50 minutos), e os despertares são naturais. É o ritmo biológico do bebê, não um erro.
https://www.youtube.com/@DraJannuzzi
Mas e quando o cansaço nos toma por completo?
A privação de sono dos pais, especialmente das mães, é um dos maiores desafios do puerpério. E muitas vezes, esse cansaço vem acompanhado de culpa, raiva, angústia — sentimentos que raramente são verbalizados.
Essa ambiguidade é real.
E precisa ser acolhida.
É possível amar profundamente o seu bebê…
e ao mesmo tempo desejar desesperadamente um tempo para dormir.
É possível oferecer colo…
e sentir que seu corpo já não aguenta mais.
É possível ser mãe…
e ser humana.
O papel dos rituais: aconchego e previsibilidade
Ao contrário do que se pensa, bebês não precisam apenas de silêncio absoluto. Eles precisam de previsibilidade. Pequenos rituais ajudam a comunicar ao corpo e à mente: “Agora é hora de descansar.”
- Banho morno
- Luzes suaves
- Música calma ou ruído branco
- Colo com balanço leve
- Leite, voz suave, um sussurro conhecido
Esses gestos repetidos criam um chão emocional de segurança.
Envolver é acolher: o poder de embrulhar o bebê
Ainda pequenino, o bebê não sabe onde termina seu corpo e onde começa o mundo. Cada toque, cada som e cada ausência se tornam intensamente percebidos.
Por isso, técnicas como o embrulhar suave com paninho (swaddling) não são apenas práticas, mas simbólicas. Elas lembram o aconchego do útero e criam uma contenção física e emocional. O bebê se sente seguro, envolvido, inteiro. E, nesse espaço apertadinho e calmo, ele costuma adormecer com mais facilidade.
Há um cuidado especial: sempre deixar o espaço das perninhas livre, respeitar a temperatura do bebê e nunca forçar a posição.
É o gesto de envolver que comunica:

“Estou aqui, o mundo pode esperar. Você está protegido.”
https://www.youtube.com/c/Beb%C3%AADorminhoco
A naninha e os objetos transicionais
Aqui entramos no território dos afetos tecidos com textura e cheiro.
O psicanalista Donald Winnicott chamava de “objeto transicional” aquilo que representa o afeto presente na ausência momentânea da mãe. Pode ser uma fraldinha, uma pelúcia, uma naninha — impregnada de cheiros, calor, vínculo.
Apresentar esses objetos com afeto, e permitir que o bebê os explore e os reconheça como extensão do cuidado, é um passo importante na construção da autonomia emocional.
Dica prática:
Mães que dormem com a naninha por algumas noites antes de oferecê-la transmitem seu cheiro. Isso ajuda o bebê a reconhecê-la como um símbolo de aconchego.
Assista: esse vídeo mostra como oferecer a naninha de forma natural, sem pressão. Uma forma delicada de apresentar o objeto transicional.
https://www.youtube.com/@nandabenatti.
Ruído branco: o som que embala, acolhe e alivia
⠀Depois de nove meses ouvindo o som do coração da mãe, do sangue correndo nos vasos, dos movimentos do corpo — o silêncio do lado de fora pode ser assustador para o bebê.
⠀Por isso, sons contínuos como o da chuva, do útero, do ventilador ou de uma frequência suave e estável (o chamado ruído branco) podem ajudar o bebê a relaxar e adormecer.
⠀
O ruído branco não é uma solução mágica.
Mas é um braço estendido.
É mais um recurso que suaviza a transição entre o colo e o sono.
⠀ Assim como a naninha, ele pode fazer parte de um ritual de sono afetivo e previsível, ajudando o bebê a construir, aos poucos, a noção de segurança.
⠀ Aqui está um exemplo para experimentar com calma, com o bebê nos braços ou já no bercinho:
Veja também: o ruído branco pode ajudar seu bebê a relaxar — não é mágica, mas sim um ambiente sonoro mais próximo do útero materno.
https://www.youtube.com/@graodegente
https://www.youtube.com/@puroruidobranco
https://www.youtube.com/@amelhormusicainstrumental9143
Slim: o colo que caminha com a gente
Quando os braços cansam, quando o tempo exige movimento, e ainda assim o bebê precisa do aconchego… o sling (ou “Slim”, como algumas mães carinhosamente o chamam) surge como um colo possível.
Ele não substitui o carinho — ele o prolonga.
No sling, o bebê sente o peito da mãe, o compasso da respiração, o perfume familiar. Ele dorme embalado pelo ritmo da vida, mas sem perder o vínculo. E a mãe, mesmo exausta, se sente mais livre para continuar — com as mãos mais soltas e o coração ainda presente.
No sling, o bebê caminha o mundo ainda no colo.
https://www.youtube.com/@pequenoseplenos
Qhttps://www.youtube.com/c/SintoniadeM%C3%A3euando
https://www.youtube.com/@atelieaconchegodemae6168
O colo também precisa de colo
Há uma dor que não costuma ser dita em voz alta:
a da mãe que ama intensamente, mas que está exausta.
A da mãe que precisa de colo e não encontra.
A que grita não por falta de amor, mas por estar no limite da solidão.
“Essa raiva não define quem você é. Ela é um sintoma. Não é sua identidade.”
— Day Amaral
Validar esse cansaço é libertador.
Não é fraqueza. É humanidade.
E se mesmo assim, o sono não vier?
Talvez seja o momento de apenas estar.
De não controlar.
De embalar no colo cansado, mesmo sem saber até quando.
De confiar que esse tempo — por mais exaustivo que seja — vai passar.
E que o que ficará…
é o aconchego,
a memória do calor,
a música suave de um amor que embala até quando não há mais força.
Às vezes, tudo o que a mãe precisa… é um colo que não seja o seu.
E assim, quem embala o colo da mãe?
Talvez o tempo. Talvez o amor em forma de rede.
Talvez outra mãe, outro colo, outro gesto.
Porque até o colo, às vezes, precisa ser acolhido.

Quando os braços cansam,
o amor segue embalando.
No balanço da pele com pele,
no silêncio que sabe falar,
no compasso entre a exaustão e o milagre:
nasce o ninho.
O Projeto Nascente acredita que acolher a maternidade é também acolher quem cuida.
Aqui, te oferecemos mais do que fotos:
oferecemos pausas, afeto, escuta.
E um lembrete gentil: você está fazendo o seu melhor.
E isso é mais do que suficiente.
Projeto Nascente – Encontro com mães que tecem histórias de afeto.
por Débora Mendonça)